Minha mulher nunca me xingou
Nem sequer no sentido carinhoso
O Xingo, quando nesse bom sentido
Até ser xingado, acaba sendo gostoso
Ela tinha as manhas do agrado
Suas palavras fluíam do coração
Todas elas passavam por um filtro
De sua boca, nunca ouvi um palavrão
A pessoa mais invejada por mim
No tangente à qualidade e pureza
Seu pisar quase nem marcava o chão
Maravilha acima da conta: que leveza
Eu procuro olhar com cuidado
Com medo de praticar a idolatria
Já que perfeitos não conseguimos ser
Primeiro lugar na bondade ela merecia
Sou suspeito falar, sou seu marido
E não tenho como escapar de fazer
Se eu não registrar um amor tão real
De que adianta? Ser lindo pra esconder
O acaso nos leva a tantos lugares
Num domingo, levou-me ao parque
Aquela ida oriunda literalmente dele
Lá estava alguém pro meu embarque
O embarque para uma vida a dois
Acordamos gastar o tempo no amar
Com nada mais foi gasto o dito cujo
Trinta e seis anos e meio sem desacordar
Eu não desembarquei nem desacordei
Vivo embarcado na bela contemplação
Ela não desembarcou nem desembarcará
Continua embarcada no peito desse velhão
Não ouvir sequer um xingo daquela pessoa
Como falei da sua qualidade e pureza no começo
E do meu invejá-la. Pode até parecer um exagero
Acaso ela não alcançou Céu. E eu então? Esqueço
Coelho
Em 26.01.2023 às 09:35 hs
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