O entulho e o prédio:
O entulho deve olhar para o prédio
E dizer lá do fundo, já fui bonito assim
Hoje, estou quebrado, triturado, ensacado
Pagam pra me levar, querem nem pisar em mim
Vendo a sua imponência me dá pena
Também já fui grande, um bem suntuoso
Não se iluda, modernidade chega, marreta vem
O homem não tem dó, o negócio fica muito custoso
Aliás, custoso é fichinha, como dizem
Assim como também usam dizer, é apelido
Se eu soubesse desse meu tão exasperado fim
Continuaria do jeito que eu era, jamais teria sido
Dizem que quem não peca tá escapo
O grande pecado que cometo é entulhar
Isso, agora depois da crueldade do homem
Antes eu era precioso, tanto que iam me comprar
E cheguei a ficar tão caro, meu amigo
Que ia só para aquelas mansões de ricaços
Chegava a pensar, sofri, sô! Mas aqui estou feito
Baita engano, mais depressa ainda, virava pedaços
Tá doido, sô! A gente sofre tudo de agressão
As máquinas arrancando a gente do aconchego
É serra, é marreta, caminhão carregando pra longe
Sem direito até de falar, nem ao menos pedir arrego
Às vezes, até tentamos dar aquele jeitinho
Um corte na mão de um, outro, damos uma amassada
Eh! Bicho danado de ruim é o tal chamado de homem
Amarra um pedaço de pano, e desistir que é bom, nada
Pago esse tributo todo pela minha utilidade
Vendo-me cresceram os olhos me tiraram de onde nasci
Usaram-me e abusaram, pra mostrar a maior ostentação
Como disse lá no começo: hoje, sou o que vês, jogado aqui
Se é que sou visto! Quando isso acontece, é só pelo cuidado
Fizeram tantas atrocidades comigo: e o medo de ser vingado
Coelho
Em 27.09.2018 às 12:09 hs
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