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Foto do escritorAntonio Coelho Ribeiro

O entulho e o prédio



O entulho e o prédio:


O entulho deve olhar para o prédio

E dizer lá do fundo, já fui bonito assim

Hoje, estou quebrado, triturado, ensacado

Pagam pra me levar, querem nem pisar em mim


Vendo a sua imponência me dá pena

Também já fui grande, um bem suntuoso

Não se iluda, modernidade chega, marreta vem

O homem não tem dó, o negócio fica muito custoso


Aliás, custoso é fichinha, como dizem

Assim como também usam dizer, é apelido

Se eu soubesse desse meu tão exasperado fim

Continuaria do jeito que eu era, jamais teria sido


Dizem que quem não peca tá escapo

O grande pecado que cometo é entulhar

Isso, agora depois da crueldade do homem

Antes eu era precioso, tanto que iam me comprar


E cheguei a ficar tão caro, meu amigo

Que ia só para aquelas mansões de ricaços

Chegava a pensar, sofri, sô! Mas aqui estou feito

Baita engano, mais depressa ainda, virava pedaços


Tá doido, sô! A gente sofre tudo de agressão

As máquinas arrancando a gente do aconchego

É serra, é marreta, caminhão carregando pra longe

Sem direito até de falar, nem ao menos pedir arrego


Às vezes, até tentamos dar aquele jeitinho

Um corte na mão de um, outro, damos uma amassada

Eh! Bicho danado de ruim é o tal chamado de homem

Amarra um pedaço de pano, e desistir que é bom, nada


Pago esse tributo todo pela minha utilidade

Vendo-me cresceram os olhos me tiraram de onde nasci

Usaram-me e abusaram, pra mostrar a maior ostentação

Como disse lá no começo: hoje, sou o que vês, jogado aqui


Se é que sou visto! Quando isso acontece, é só pelo cuidado

Fizeram tantas atrocidades comigo: e o medo de ser vingado


Coelho

Em 27.09.2018 às 12:09 hs


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